Frank Vincent Zappa nasceu em Baltimore, no estado de Maryland em 21 de dezembro de 1940. Filho mais velho numa família com 4 filhos, tinha dois irmãos e uma irmã. Sua mãe tinha ascendências italiana e francesa e seu pai, nativo da Sicília, tinha ancestrais gregos e libaneses.
Químico e matemático, o pai de Frank teve vários empregos na indústria de defesa dos Estados Unidos e, por isso, a família mudava-se com muita frequência durante sua infância. Após uma breve passagem pela Florida, a família Zappa retornou a Maryland, onde seu pai trabalhou em uma instalação que produzia armas químicas e, por isso, máscaras de gás eram mantidas em casa, para o caso de algum vazamento nas instalações da fábrica, que ficava próxima à residência. Isso provocou no jovem Zappa muitas referências a germes, guerra biológica e outras encontradas em seu trabalho.
Apesar disso, o pequeno Frank Zappa era uma criança esperta e teve uma infância razoavelmente tranquila, e que somente não foi melhor porque ele costumava ficar muito doente por sofrer de asma, dores de ouvido e problemas nos sinos. Por causa disso, sua família iniciou uma série de mudanças, até finalmente se estabelecer em San Diego.
Por volta dos 12 anos, ganhou uma bateria e começou os estudos básicos de percussão orquestral. Ao ler um artigo sobre Edgar Varèse, no qual teve contato com esse compositor que desenvolvia experiências musicais insólitas, procurou até conseguir encontrar um LP de Varèse. Outros autores como Igor Stravinsky e Anton Webern, além de grupos de R&B, doo-wop e jazz moderno fizeram parte da influência musical de Zappa que, crescendo no meio multicultural da Califórnia, foi conduzido a participar da efervescente cena underground da região e isso também moldou sua personalidade crítica e satírica contra movimentos mainstream sociais, políticos e musicais, traço que o caracterizou e marcou toda a sua existência.
A história de Frank Zappa é melhor contada a partir de suas composições e interpretações. Em seus quase 53 anos de vida (Frank faleceu em 04 de dezembro de 1993, 17 dias antes de seu aniversário) produziu uma extensa obra, com cerca de 60 álbuns publicados em vida e 40 publicados postumamente.
A música de Zappa é, acima de tudo, uma provocação, um tapa na cara do gosto convencional. Tentar classificá-lo usando as réguas tradicionais seria, além de uma tarefa sem sentido, um trabalho que resultaria infrutífero, pois ele parece não se enquadrar em nada. Seu gosto por música clássica não-ortodoxa o acompanhou desde jovem até o final de sua carreira, em que dedicou grande parte de seu tempo em composições que estenderam o que ele assimilou de grandes mestres da música.
Zappa não teve uma formação musical tradicional, mas seu senso musical genuíno e seu gênio inquisitivo sempre o conduziu à experimentação e à busca pelo refinamento e originalidade. Isso também o obrigou a procurar se cercar sempre de excelentes músicos que, mesmo sendo profissionais e muito hábeis, tiveram que superar seus limites para atingir os níveis esperados pelo compositor e maestro, além de guitarrista excepcional, dono de um estilo inconfundível e único para compor, conduzir e tocar.
A composição The Black Page que apareceu no álbum Zappa in New York, lançado em 1976, é reconhecida por muitos músicos como uma peça extremamente difícil de ser executada e temida por muitos músicos, mesmo profissionais com muitos anos de experiência. Terry Bozzio, um baterista virtuoso, foi um dos primeiros a conseguir executar a peça e, somente depois de muito treino, o restante da banda pode dominar essa peça. A composição recebeu outros arranjos, como a versão “disco” que ficou conhecida como Black Page#2. Clique no link a seguir para assistir ao vídeo Solos & Duets com Terry Bozzio e Chad Wakerman e entender um pouco da fama desta peça. (https://www.youtube.com/watch?v=sNoi0TDP1Q0)
Certa vez questionado por Matt Groening, criador dos Simpsons, a respeito do conceito de tempo, Zappa disse: “Acho que tudo está acontecendo o tempo todo e que, a única razão pela qual pensamos no tempo como algo linear é devido a estarmos condicionados a isso. Isso ocorre porque a ideia humana da coisa é a de que, se algo tem começo, tem um fim. Não acho que isso seja necessariamente verdade. Penso no tempo como uma constante, uma constante esférica…”. Curiosamente, essa mesma ideia é encontrada no livro de Stephen Hawking chamado Uma breve história do tempo.
Minha intenção com esse post não é cansar ninguém com uma estória longa, por mais interessante que tenha sido a vida desse ícone do underground, reverenciado e apreciado por muitos, rechaçado por uma outra legião, porém jamais ignorado por sua música irreverente e perturbadora. Além disso, gostaria de prestar um agradecimento a meu irmão Ari por ter me apresentado a esse gênio musical sem concorrência, que me trouxe uma percepção diferente, muito mais crítica diante da hipocrisia reinante no mundo, porém reconhecendo que ainda vai demorar muito tempo para que o mundo realmente possa entender o que Frank Zappa quis nos mostrar através de seu trabalho incansável, se é que isso um dia poderá ocorrer.
“Eu nunca pretendi ser esquisito. Foram sempre outras pessoas que me chamaram de esquisito.” (Frank Zappa)
Frank Zappa dispensa apresentações para aqueles que o reverenciam e, para aqueles que não o apreciam, qualquer apresentação seria inútil. Sua longa trajetória, os grupos musicais dos quais participou, os músicos com quem trabalhou, são bem conhecidos de todos os que apreciam sua eloquência e suas excentricidades.
Então, sem mais delongas, vamos à uma pequena porção de sua obra, que separei com o intuito de eternizar e sempre lembrar todas as horas agradáveis que tive em minha vida simplesmente pelo fato de FZ nos ter deixado esse legado excepcional.